AÇUDES DO
SEMIÁRIDO: Uma alternativa de enfrentamento à seca
Francisco Eliando Silva Oliveira[1]
RESUMO: A água é um dos elementos mais
importantes na manutenção da vida no planeta e vem se tornando um recurso
escasso onde a crise hídrica abrange inúmeros países pelo mundo, sobretudo nas
regiões semiáridas. O Ceará possui capacidade cumulativa de 18 bilhões de metros
cúbicos nos grandes açudes, que são principal forma de armazenamento de água do
Estado. Hoje, 118 dos 153 reservatórios apresentam volume inferior a 30%, entre estes, o Açude
Prazeres do Município de Barro com 19,29% do volume. Nesse sentido, essa
experiência objetivou sensibilizar a comunidade escolar da Escola Deputado Antônio
Leite Tavares e população agropecuária do Vale de Cuncas e vizinhança, acerca
da importância do coerente uso consuntivo das águas dos açudes locais, como
fator condicionante para o enfrentamento da estiagem na região e garantia de
água para o consumo humano local. Existe a necessidade de conservação dos
mananciais como ferramenta de enfrentamento à crise hídrica levando a
comunidade a implantar práticas coerentes de uso do reservatório, adotando
técnicas de racionamento e manutenção de perenizarão dos rios. Tratou-se de uma
pesquisa-ação desenvolvida pelos alunos da instituição, investigando as causas
do desperdício da água e a relação entre comunidade local e a crise hídrica
instalada na localidade. O trabalho em parceria com outras instituições, mostrou
que a disponibilidade de água na nossa região é incerta e que mudar a visão das
pessoas é uma questão de educação ambiental na garantia da segurança hídrica
frente à estiagem que hoje enfrentamos.
PALAVRAS-CHAVE: Seca, Conscientização, Água, Açudes.
1. INTRODUÇÃO
A Escola de
Ensino Médio Deputado Antônio Leite Tavares é uma instituição localizada no
Distrito de Iara, município de Barro-CE, que atende alunos oriundos do próprio
distrito e comunidades circunvizinhas. Em relação às condições socioeconômicas
e culturais podemos afirmar que maioria das famílias é de baixa renda,
sobrevivendo da agricultura e serviços informais que não geram uma renda fixa com
considerável número atendidas por programas sociais.
O município
onde a escola está inserida, localiza-se na mesorregião do Sul Cearense, com
clima tropical quente semi-árido, e pluviometria
média de 907,4 mm, com chuvas concentradas de janeiro à abril.
Vale salientar que.
o município é bem dotado de recursos hídricos com rios, como
o Cuncas, e riachos como os das Antas, dos Cavalos, Cumbe e outros, que desaguam no Rio Salgado. No vale do Rio
das Cuncas, localiza-se o maior reservatório de água o Açude Prazeres, com
capacidade de 32,000,000 m³.
No
Ceará, 118 dos 153 reservatórios apresentam volume inferior a 30%, entre estes,
o Açude Prazeres. Nesse sentido, observou-se a necessidade de conservação deste
e outros açudes, como ferramenta de enfrentamento à crise hídrica levando a
comunidade a implantar práticas coerentes de uso dos reservatórios, adotando
técnicas de racionamento e manutenção de perenizarão dos rios. A experiência
propôs mudar a visão das pessoas acerca da disponibilidade de água no município
como uma questão de educação ambiental na garantia da segurança hídrica frente
à estiagem que enfrentamos nos últimos anos.
Esta
atividade justifica-se pela necessidade de conservação do açude Prazeres,
mapeamento e monitoramento dos outros reservatórios comunitários e seus
afluentes, com o propósito de amenização da seca no município, que entra no
quarto ano consecutivo, levando a comunidade local a reconhecer a necessidade
de se implantar práticas coerentes de uso consuntivo da água dos reservatórios,
bem como adotar técnicas de racionamento e manutenção de perenizarão dos rios
que o açude Prazeres abastece.
A relevância do trabalho esteve em fazer um
mapeamento da degradação das margens dos açudes da região e do Rio Cuncas,
identificando os fatores agravantes de escassez destes reservatórios que é
potencializada pelo desperdício diário da água retirada das
barragens e procurando desenvolver na comunidade escolar valores e atitudes
relacionadas a manutenção e preservação destes mananciais. Para a Secretária de
Recursos Hídricos (2010) o levantamento dos principais indicadores de
degradação ambiental dos recursos hídricos em bacias hidrográficas é
imprescindível para o desenvolvimento da gestão destes recursos.
A
gestão dos recursos hídricos nos Açudes do semiárido, deve ser estratégica para
o futuro, principalmente para aqueles que não receberão as águas da
transposição do Rio São Francisco. Os relatos dos estudantes sobre a situação
dos reservatórios das comunidades, nas aulas de Biologia e Formação para a
Cidadania, despertou a ideia de uma intervenção da escola objetivando sensibilizar
a comunidade escolar e a população agropecuária dos sítios e distritos
atendidos pela instituição, acerca da importância do uso das águas dos açudes
comunitários, como fator condicionante para o enfrentamento da estiagem na
região e garantia de água para o consumo humano.
Para isso, os alunos do 2º Ano foram
mobilizados a desenvolver estratégias educomunicativas como medidas de educação
ambiental para o combate ao desperdício de água nas comunidades ribeirinhas,
uma vez que estas vivem um momento crítico de reserva hídrica, agravado pelo desperdício
incessante, pelo desmatamento da mata ciliar dos reservatórios e margens dos
rios, pela grande quantidade de entulho no leito destes e ainda pelo desvio da
água para sistemas de irrigação.
1. RELATO DE EXPERIÊNCIA
A metodologia
escolhida para a realização desta experiência educativa foi uma pesquisa-ação
realizada pelos alunos do 2º ano da EEFM Dep. Antonio Leite Tavares - DALT, em
Barro/Ce, que objetivou investigar as causas do
desperdício das águas do Açude Prazeres e outros reservatórios
comunitários da região do Distrito de Iara, bem como a relação entre as
comunidades locais e a crise hídrica instalada nos reservatórios observados.
A
pesquisa-ação é uma metodologia coletiva que favorece as discursões e a
produção cooperativa de conhecimentos específicos sobre a realidade vivida. Ela
é centrada diretamente numa situação ou problema coletivo no qual os
participantes estão envolvidos de modo cooperativo ou participativo (GIL,
2009).
Para a
efetivação desta atividade foi realizado um plano de ação a partir da nítida
observação da redução do volume das águas dos reservatórios, que além da falta
de chuva nestes últimos anos, o principal açude da região, o Prazeres, teve a
situação agravada pelas obras da transposição do Rio São Francisco, cuja
construção do maior túnel do projeto, que recebeu o nome de Cuncas I, necessitou
de grande volume de água captada nos
açudes da localidade.
CRONOGRAMA
• Pesquisa bibliografia da situação dos
Açudes Cearenses baseada nos relatórios técnicos do Portal Hidrologia do Ceará
– Maio e Junho 2016. Os pesquisadores puderam construir gráficos sobre os
percentuais hídricos atuais e compará-los com as capacidades reais dos
reservatórios.
• Análise de fotos satélites das
condições hídricas dos reservatórios municipais - Maio 2016. Nesta etapa foi
fundamental aplicar conceitos de cartografia para localização territorial das
comunidades atendidas pela escola com suas barragens e rios. As imagens ainda
possibilitaram a análise de degradação da vegetação pela ação humana para a
prática agrícola.
• Pesquisa e registro em campo das áreas
degradadas, poluição dos rios situação de desperdício dos reservatórios – Maio
e Junho 2016. Etapa de observação e mapeamento das áreas degradadas com
registro em caderno de campo e fotográfico para exposição nas reuniões com a
população agrícola da região. As fotografias foram usadas na elaboração de um
painel para exposição nos corredores da
escola objetivando levar ao conhecimento dos alunos a existência desses
reservatórios e importância da manutenção dos mesmos.
• Coleta de dados junto aos agricultores
sobre o uso das águas dos açudes mapeados – Junho 2016. Nesta fase da atividade
em campo, os alunos visitaram as lavouras colhendo informações sobre a captação e uso das águas dos açudes e
rios. Puderam constatar como se faz o uso abusivo e inadequado dos recursos
hídricos e que a falta de conhecimento e/ou capacitação dos agricultores
constituem um entrave na preservação dos mananciais.
• Elaboração
de gráficos sobre o consumo médio e desperdício de água do açude Prazeres – Junho
2016. Neste momento, os alunos calcularam a média de água consumida do açude
considerando o número de caminhões pipas que sai diariamente da barragem, bem
como o volume vazado pela comporta. Para os açudes
menores, os cálculos foram realizados com base na capacidade de vazão em metros
por minuto das bombas d’água instaladas nos reservatórios.
• Palestra com técnico da EMATERCE sobre
práticas agrícolas sustentáveis com uso coerente de água na irrigação - Junho
2016. Neste ponto da ação, os agricultores foram convocados através das
associações agropecuárias locais, para uma reunião onde foi apresentado os
dados colhidos na atividades e orientados sobre o uso coerente das águas dos
reservatórios por um profissional qualificado. A parceria foi estabelecida com
a Secretaria Municipal de Agricultura que prontamente atendeu à solicitação da
Escola enviando um técnico para proferir uma palestra sobre o assunto.
• Oficina de campo com técnico agrícola
sobre a irrigação por gotejamento - Junho 2016. Foi constatado que na
comunidade escolar havia um pai de aluno que era técnico agrícola e o mesmo foi
convidado a fazer uma visita, juntamente com os alunos ás áreas observadas para
que o mesmo orientasse os agricultores sobre o uso coerente da água sem
desperdício.
• Produção de fanzine e estratégias
aducomunicativas como medidas para evitar desperdício de água - Junho 2016. Na
reta final, os alunos elaboraram um fanzine e um calendário semestral, com
dicas para a economia de água e medidas de prevenção de desperdício. As
produções foram impressas e distribuídas nas residências das comunidades.
• Produção do relatório sobre a
degradação ambiental e desperdício de água dos açudes e rios dos Distritos de
Iara, Cuncas, Serrota e Engenho Velho, encaminhado à Secretaria Municipal do
Meio Ambiente para a tomada de medidas administrativas que reduzam os danos
ambientais nos reservatórios em tempos de seca.
1. CONCLUSÕES
O enfrentamento da crise hídrica que vivemos
atualmente está diretamente relacionado ao combate do desperdício de água e
adoção de uma postura voltada para o planeta que queremos para os nossos
filhos. Nesse sentido, é necessário entender o desenvolvimento
sustentável como uma forma de suprir as necessidades da geração atual sem
comprometer a capacidade de atender as gerações futuras.
O
Artigo 225 da Constituição Federal garante a todos o direito ao meio ambiente
ecologicamente equilibrado e o Objetivo 15 da Agenda 21 foca a preservação da
quantidade e melhoria da qualidade de água nas bacias hidrográficas.
Se
a água é considerada um bem de domínio público é dever de todos pensar a gestão
dos recursos hídricos de forma descentralizada articulando às nossas ações a
participação do poder público e de toda a comunidade.
Este
trabalho mostrou que mudar a visão das pessoas é uma questão de educação
ambiental. Que a disponibilidade de água na nossa região é incerta e que,
portanto, somente com a participação de todos na recuperação das matas
ciliares; contensão de sedimentos ao longo dos rios; práticas de irrigação
adequadas e o uso coerente da água dos açudes é quem vai nos garantir alguma
segurança hídrica frente à estiagem que hoje enfrentamos.
A escola é o local privilegiado para
o desenvolvimento deste trabalho já que agrega grande parte das crianças e
adolescentes das comunidades ribeirinhas, constituindo um espaço de
socialização, formação e inovação no desenvolvimento de práticas que atendam às
necessidades de cada região.
A EEFM Dep. Antônio Leite Tavares
procurou integrar os aspectos da sobrevivência e da existência da sua
comunidade escolar no ambiente onde está inserida, permeando os princípios
éticos na busca de solução sistêmicas, acessíveis e simples que garantam a
preservação desuas reservas hídricas e o desenvolvimento da região de modo
seguro e sustentável.
4. REFERENCIAS
BONILLA. O. R.
Responsabilidades e compromissos sociais. Mudanças
climáticas e desenvolvimento sustentável. FDR, 2009, vol. 6.
BRASIL. Ministério do Meio
Ambiente. Secretaria de Biodiversidade e Florestas. Departamento de
Biodiversidade Aquática, Mar e Antártica – DMAR. Disponível em: <http://www.mma.gov.br/biodiversidade/biodiversidade-aquatica>.
Acesso em 15 de maio de 2016.
______. Ministério do Meio
Ambiente. Curso Básico de Educação Ambiental. Brasília: MMA, 2001. 5v., 2ª Ed
ampliada.
______. Consumo
Sustentável: Manual de educação. Brasília: Consumers International/ MMA/
MEC/IDEC, 2005. 160 p.
Manual de Etiqueta: 13 coisas que você precisa saber sobre a água. São Paulo: Abril,
2014.
CEARÁ.
Secretaria de Recursos Hídricos – SRH. Companhia de Gestão dos Recursos
Hídricos–COGERH .Disponível em: <http://www.hidro.ce.gov.br/mi/midia/show/149>.
Acesso em 15 de maio de 2016.
Declaração
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de maio de 2016.
GIL, A. C. Como
elaborar projetos de pesquisa. 4. ed. São Paulo: Atlas,
2007gov.br/arquivos/pdf/2007_salas.pdf Acesso em 04 mai. 2016.
LUCENA, E. M. P. Ecossistemas do Nordeste. Mudanças climáticas e desenvolvimento
sustentável. FDR, 2009, vol. 10.
VIDAL, E. M. Mudanças Climáticas. Fortaleza: Edições Demócrito Rocha, 2010.
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